Tento desesperadamente me salvar
da correnteza dos meus sentimentos. Eu os engano, para que não me devorem, em
cada margem da minha sanidade. Converso o tempo todo com minha mente tentando
poupá-la de tão vis preocupações.
Busco na memória os momentos mais
felizes, procuro respostas para perguntas que nem consigo fazer. E elaboro em
minha mente a resolução de cada enorme problema para os quais, no fim, nunca
encontrarei solução.
Encontro, nesta busca
desenfreada, a satisfação de estar viva. Não saberia ser de outra forma. E de
fato não precisa ser, desde que saibamos que há outras formas.
Paro diante da minha própria
loucura só para senti-la melhor. Porque sei que sou louca é que sou sã. E no
momento em que paro é que vejo a verdadeira loucura ao redor, de corpos e
vidas, de desencontros e idas, de uma jornada da qual ninguém pode se safar.
Penso ligeiramente sobre as
conquistas alheias, as derrotas pessoais, os sonhos em comum, e o que me atém é
a dúvida do caminhar. Não tenho medo dos deslizes porque eles são não apenas
inevitáveis, mas necessários. Tenho medo do medo que sinto de errar, e da dolorosa
dúvida que apenas isso já é capaz de causar.
Continuo apenas porque, apesar de
toda esta ânsia, não tenho medo da dor, nem me falta a vontade de recomeçar. E
simples assim, estou sempre a tentar. Eu busco e às vezes encontro, eu paro,
penso, e continuo sempre a sonhar. Porque de todas as dúvidas, me resta a
certeza de querer que a vida seja mais que o suspiro de uma recordação.