segunda-feira, 9 de junho de 2014

O eterno do que tem fim

Perdi seus olhos
Repletos de ternura
Para os quais aquela altura não conseguia mais olhar.

Fitavam meu rosto como se olhassem 
a existência inteira
E perderam-se nessa imensidão.

Deixei de ter o colo 
e o carinho
quando no meu mundo eu já não os permitia entrar.

Não tenho mais as mãos dadas
que no entrelaço do caminho
apertavam as minhas cheia de gratidão.

Nem me lembro dos abraços cuja ausência já me fizeram chorar.

Circundavam meu corpo 
como se fossem a última rota
Encontravam minha alma como quem encontra a si
E deixaram-no sem qualquer direção                                                         

Perdi até mesmo a sua amizade
E alguns momentos
Com a insistência de quem imaginava poder assim continuar

Caminhos estranhos estes desta viagem sem rumo que se chama coração.

E o rosto se dissipa
Na dor de todas as perdas
Que fizeram do encontro
O mais perfeito dos encantos

Querendo tornar eterno
Acabou com tudo
que a vida não coloca fim.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Reviravolta


Tento desesperadamente me salvar da correnteza dos meus sentimentos. Eu os engano, para que não me devorem, em cada margem da minha sanidade. Converso o tempo todo com minha mente tentando poupá-la de tão vis preocupações.
Busco na memória os momentos mais felizes, procuro respostas para perguntas que nem consigo fazer. E elaboro em minha mente a resolução de cada enorme problema para os quais, no fim, nunca encontrarei solução.
Encontro, nesta busca desenfreada, a satisfação de estar viva. Não saberia ser de outra forma. E de fato não precisa ser, desde que saibamos que há outras formas.
Paro diante da minha própria loucura só para senti-la melhor. Porque sei que sou louca é que sou sã. E no momento em que paro é que vejo a verdadeira loucura ao redor, de corpos e vidas, de desencontros e idas, de uma jornada da qual ninguém pode se safar.
Penso ligeiramente sobre as conquistas alheias, as derrotas pessoais, os sonhos em comum, e o que me atém é a dúvida do caminhar. Não tenho medo dos deslizes porque eles são não apenas inevitáveis, mas necessários. Tenho medo do medo que sinto de errar, e da dolorosa dúvida que apenas isso já é capaz de causar.
Continuo apenas porque, apesar de toda esta ânsia, não tenho medo da dor, nem me falta a vontade de recomeçar. E simples assim, estou sempre a tentar. Eu busco e às vezes encontro, eu paro, penso, e continuo sempre a sonhar. Porque de todas as dúvidas, me resta a certeza de querer que a vida seja mais que o suspiro de uma recordação.

Mensagem


Antes de mais nada, livre-se dos dogmas. 
foto Kitty Paranagua

Livre-se das regras que te foram passadas e dos preceitos que disseram ser preciso seguir. Se possível, também, se livre de quem os passou. Não aceite o que vier imposto.
Afaste-se das verdades e bondades; mas principalmente, de quem só as dizem e só dizem que as fazem. 
Se afaste de todas as certezas; e do absoluto, duvide sempre. Dificilmente exista uma questão que não possa ser vista por outra perspectiva.
Questione suas dores e suas vontades. E principalmente, questione-se. Sobretudo, mude de opinião. Trace outra rota. Recomece.
Desconfie das situações em que tudo esteja sob controle, da felicidade infinita e da tristeza interminável. Desconfie acima de tudo, de sonhos que não requisitem esforço para ser alcançados. Mas não desconfie da derrota.
Tema a fraqueza e a ambição. Mas queira-os em alguma medida. A ambição, quando tomada em pequena medida, para fim próprio e sem usura, pode ajudar para levar ao sucesso de uma nova conquista. A fragilidade deve fazer parte só na medida em que nos faz humanos.
Saiba que tudo o que você é poderia não ser. Que o que você vê, só você enxerga; que o que pensa, só você pensa; que o que ama, só você sente. Mas que tudo o que vê, pensa e ama não faz parte de você.
Então, por fim, livre-se de você mesmo. Só assim poder-se-á ser verdadeiramente livre.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Dura-Ação de Um Minuto


Por muito tempo pensei que a minha raiva o libertaria, e a sentia, muito forte dentro de mim, imaginando que através dela, os seus sentimentos ruins seriam remediados. Pensei que da minha dor, seu sofrimento diminuiria, e julguei poder senti-los sozinha imaginando que você esqueceria os seus.
Durante todo esse tempo eu cultivei problemas meus, seus e nossos, revivi-os tentando achar um caminho para ninguém mais os ter, imaginando que se eu adotasse todos eles, você não mais os teria. Eu cometi erros dantescos com a intenção de cometê-los julgando que você não só os tomaria como lição, mas também, jamais, erraria.
Por muito mais tempo, eu continuei errando. Errei por amar muito e por não saber amar, numa dicotomia louca dentro do angustiante paradoxo do amor, e pensei que a minha imparcialidade o faria muito amado.
Por muitos anos senti um rancor imenso de quem te fazia mal, e julguei que o meu ódio poderia suprimir o seu e que assim você os perdoaria. Eu amargurei minha alma achando que poderia proteger a sua. Durante muito tempo imaginei que os meus esforços poderiam mudar o mundo, o seu mundo. 
Eu abriguei meus sonhos no peito, mas nas ações, nenhuma das palavras sonhadas foram ditas. Eu briguei com a realidade, eu suprimi a verdade, eu tive a pretensão de fazer o bem, julgando saber fazê-lo, e esquecendo-me que de que ele não existe  em absoluto.
Por muito tempo eu achei que teria muito tempo, e ao tentar me encontrar em você, ou alguma parte de mim que fosse sua, eu percebi que perdi todo o tempo. 
Em apenas um minuto eu deixei de pensar, e vi que os olhos enganam. A pele se descolou do meu corpo e minha alma caiu ao chão, inanimada; num desencontro repentino de corpos alheios e sentimentos perdidos na rouquidão do mundo. Descobri a pessoa que deixei de ser, desamparada na memória do que não aconteceu. Vesti ao corpo o vazio do que imaginava crer, sem querer, sozinhos, sabendo apenas agora que o que se imagina não passa do excremento das lembranças do que nunca será vivido.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Entremeio


É um vazio enorme. Vazio da incompreensão, da frustração, do desespero de não estar ao alcance.
É um vazio que não se explica, se sente.
É um choro inútil, uma dor imensa, uma alma em frangalhos. Uma alma que não entende.
É a vida mostrando que traz obstáculos, é ela mudando a rota, mostrando que não há ilusão. 
Seria um passo mal dado, o destino cruzado, ou um castigo por um pecado?
Seria o não entender da filosofia, e todas as expectativas jogadas ao chão do passado. Esperanças vãs para o que não houve perdão.
É o presente agora se fazendo encarar, e a morte súbita do que era esperado.  
É mais que o vazio. É o sublevar dos desejos, a falta do que não se teve; a exposição branda do que realmente importava. A percepção do que nunca mais se terá...
Alheio, o coração doente, o vácuo da ausência de sonhos. 

Lu